Coração Selvagem
Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1990. Baseado no livro Wild at Heart: The Story of Sailor and Lula, escrito pelo poeta e novelista norte-americano Barry Gifford.
A história gira em torno do casal Lula (Laura Dern) e Saylor (Nicolas Cage), e nos mostra o limite da loucura humana com a perseguição da mãe de Lula, Marietta (Diane Ladd – indicada ao Oscar) a Saylor, que começa com o episódio em que o capanga de Marietta tenta esfaquear Saylor, depois de muita violência e sangue, o capanga é morto pelas mãos do namorado de Lula.
Depois de cumprir pena de dois anos, Saylor é posto em liberdade condicional e, para tormento da mãe de Lula, foge com a filha embarcando numa viagem pelas estradas do interior dos EUA, com muito sexo, música e Elvis Presley, até o momento que passam a ser perseguidos por Johnnie Farragut (Harry Dean Stanton), namorado de Marietta, que também contrata o matador de aluguel Santos (J. E. Freeman). Fugindo de Farragut e com a cabeça a prêmio, Saylor se vê sem dinheiro e resolve juntar-se a um bandido para roubar um banco.
O filme reserva a cena antológica, do quase estupro consentido de Lula pelo bandido Bobby Peru (Willem Dafoe – com lábios repugnantes) e a presença de Perdita (Isabella Rossellini), onde Lynch faz sua analogia loira/morena. Porque, apesar dela usar peruca loira, notamos propositadamente seu cabelo negro. Para Lynch a mulher morena representa o mistério.
Se pegarmos o roteiro do filme e passarmos para qualquer outro diretor é bem provável que o filme fosse classificado como um romance, mas nas mãos de Lynch a história é outra, literalmente. Saylor & Lula, pode e deve ser comparado a Romeo & Julieta, o amor deles é impossível e ainda encontram uma antagonista que além de vilã possui personalidade esquizofrênica. O que difere os casais é que enquanto Romeo tinha um amor quase infantil por Julieta, Saylor & Lula representam também o amor carnal, o desejo sexual, contida sempre na filmografia do diretor, que faz aqui o seu filme com mais apelo sexual.
Comentários
Depois de Coração Selvagem, apenas Barton Fink, Pulp Fiction e Elephant, filmes legitimamente americanos, conseguiram levar a Palma de Ouro (não vou citar Fahrenheit 9/11, que é um caso particular). Isso mostra o quanto o Cinema americano precisa de autores e nos leva a uma certa preocupação com o sucateamento do melhor e mais completo Cinema do mundo (ver um artigo que escrevi no meu blog chamado S.O.S. EUA).