A.I. – Inteligência Artificial
Por cerca de 21 anos, A.I. – Inteligência Artificial foi um projeto pessoal do diretor, roteirista e produtor Stanley Kubrick. Nesse período, ele colaborou com vários roteiristas e travou longas discussões sobre o filme com o também diretor, roteirista e produtor Steven Spielberg. Numa dessas conversas, Kubrick sugeriu que o filme tratava de um tema que era muito mais propício à visão de Spielberg.
Após a morte de Kubrick, em 2001, a viúva do diretor ofereceu para Steven Spielberg as diferentes versões de roteiro e as anotações feitas por Stanley Kubrick ao longo dos anos. A partir deste material, Spielberg redigiu um novo roteiro e reuniu novamente parte da equipe de produção que já vinha trabalhando com Kubrick. O resultado é o filme A.I. – Inteligência Artificial.
Baseado em um conto de Brian Aldiss, o filme conta a jornada em três atos do menino-robô David (Haley Joel Osment).
Primeiro Ato
David é apresentado como a mais nova criação da Cybertronics, e vinha preencher uma lacuna de mercado. Os governos haviam propostos políticas que restringiam a reprodução humana e os pais ansiosos pelo amor infantil poderiam encontrar conforto numa criança robô, que amaria os pais incondicionalmente, assim como qualquer outra criança.
Como ainda é um protótipo em plena fase de experimentação, David é enviado para a família Swinton. Henry (Sam Robards) e Monica (Frances O’Connor) tinham um filho chamado Martin (Jake Thomas), que se encontrava em um estado de coma irreversível. Como Monica se recusava a aceitar a possibilidade de que o filho estava virtualmente morto, Henry trouxe David para casa. Depois de uma rejeição inicial, Monica viu nascer dentro de si aquela necessidade de ter o amor de um filho, de escutar a palavra “mamãe”. Assim, ela se deixou envolver pelas promessas que vinham acompanhadas de seu novo produto (“finalmente – um amor só seu”).
Quando Martin acorda do coma, a situação de David na casa da família Swinton fica um pouco insustentável. O ciúme, a inveja e a intriga nascem por parte de Martin em relação à David. Henry e Monica, então, tomam uma decisão e abandonam David.
Segundo Ato
A história favorita de David era a do “Pinóquio”, o boneco de madeira que, pelas mãos da Fada Azul, se tornou um menino de verdade. Como acredita que, se ele fosse um menino de verdade, Monica o amaria, David embarca em uma jornada por um mundo – em certos momentos sombrio e fascinante em outros – em busca da Fada Azul que o transformará em um humano. Aqui, ele terá a companhia do Gigolô Joe (Jude Law), um fugitivo da polícia e um robô criado exclusivamente para amar as mulheres.
Terceiro Ato
David continua a ser aquele menino único e especial que conhecemos. Ele, de certa maneira, se agarra à essa definição. Quando essa noção que David tem de si mesmo vem abaixo, toda a sua esperança vai junto. Ele deixa de ter fé. Até o momento em que um encontro acontece. A fé renasce e os pedidos são repetidos. Ele ainda poderá ter a sua felicidade. David chega ao mais próximo de ser humano que ele pode e ele verá, pela primeira vez, o local aonde os sonhos nascem.
A.I. – Inteligência Artificial é um filme que tem muitos momentos de brilhantismo. A cena do mercado de peles. O passeio em Rouge City. Mas, nenhuma dessas cenas chega aos pés daquelas que seriam os dois finais do filme. A primeira delas, o final teórico, é uma cena poética, de reencontro com a fé. O segundo, o final propriamente dito, representa a felicidade plena, o conforto.
Curiosamente, estas duas cenas mostram muito daquilo que A.I. – Inteligência Artificial tem de mais impressionante: a união de duas das mentes mais brilhantes que o cinema norte-americano já produziu, a de Stanley Kubrick e a de Steven Spielberg. O primeiro inspirou e determinou muitos dos rumos que o filme tomou. O segundo teve a humildade de psicografar a visão de um homem para dentro de seu filme, sem sufocar a sua própria interpretação da história.
E da combinação de duas mentes tão capazes e, ao mesmo tempo, tão distintas nasce um filme que é emocionante, inesquecível e que nunca deixará de ser atual. A.I. – Inteligência Artificial é tão bom que chega a ser uma das melhores – e mais subestimadas – obras que Steven Spielberg já produziu. Será que um dia ela terá seu valor reconhecido? Veja aqui a bela homenagem do Oscar de 1999 feita a Kubrick e apresentada por Spielberg.
* Kamila é jornalista, publicitária e blogueira do Cinéfila por Natureza, onde escreve, desde 2005, todas as quartas e sábados sobre filmes em cartaz nos cinemas.
Comentários
Acho que A.I. não terá reconhecimento do grande público não (mais ou menos o que acontece com De Olhos Bem Fechados, mas já fico satisfeito do filme ser discutido nas rodas de cinéfilos.
Beijo!
Obrigada pelo convite, Cassiano. É um prazer estar neste blog.
E eu amo "A.I.", acho que o filme é um dos melhores que o Spielberg produziu. Também acho que a atuação da Frances O'Connor neste filme é uma das coisas mais impressionantes que eu vi no cinema e não sei como ela não teve reconhecimento por isso. E fico ainda mais surpresa depois de notar que a carreira dela depois desse filme nem progrediu.
Essa frase do post foi, na minha opinião, a melhor de todo o texto e resume bem o que eu penso:
"E da combinação de duas mentes tão capazes e, ao mesmo tempo, tão distintas nasce um filme que é emocionante, inesquecível e que nunca deixará de ser atual. A.I. – Inteligência Artificial é tão bom que chega a ser uma das melhores – e mais subestimadas – obras que Steven Spielberg já produziu".
O filme é intenso e faz a gente mergulhar para dentro da história. Lembro que fui ao cinema e saí de lá completamente atônita. Genial!
Abraços!
UH, TRICOLOR!!! Que começo de Copa Libertadores hein... Primeiro passo foi dado, agora é seguir forte, bravo e aguerrido. Abração!
Hum filme qui foi brilhante. Produzido com diversos e emocionantes triologías do nosso dia a dai... Qui nos leva a refletir o que e porq uma pessoa produziria um filme desses...
Só mente por uma experiencia ou por hum estimulo, um fato aocnteceido...
Adorei a trilha sonora...
Gian Tadeu Fernandes...
Mas já foi acertado a parte errada. Grato.