O Rei do Rio
“O jogo do bicho é baseado na honestidade”.
Adaptação da peça O Rei de Ramos, escrita pelo genial baiano Dias Gomes, que havia adaptado da novela Bandeira Dois, esse é um dos grandes filmes nacionais, ao lado de Cidade de Deus (2002), Central do Brasil (1998) e Faca de Dois Gumes (1989). Uma produção da família monopolista Barreto, o filme acabou caindo no colo do caçula Fábio, então com 28 anos, depois que o irmão Bruno, já famoso, resolveu ir para os Estados Unidos. Alias, a direção é o ponto alto do filme. Em duas ou três cenas, Fábio demonstra uma habilidade de impressionar.
Inspirado em O Poderoso Chefão (1972) e Era uma Vez na América (1984), confessado nos comentários do diretor no dvd, completamente desconfortado, discursando. Com roteiro do chileno Jorge Duran e José Jofilly Filho e também do Fábio Barreto, O Rei do Rio mostra a amizade entre dois apontadores do bicho, Tucão (Nuno Leal Maia) e Nico Sabonete (Nelson Xavier), que trabalham para o banqueiro do jogo do bicho Mestre Cacareco (Milton Gonçalves – em interpretação notável), inspirado no bicheiro Mestre Natal, da Portela. Os jovens amigos, depois de ganharem uma pequena fortuna no jogo, tentam comprar um ponto de banca de Cacareco, que se nega a vendê-la, mas com o apoio do Delegado Paixão (Tonico Pereira) e do Deputado Farias (Flávio São Thiago), Tucão resolve ser o novo Rei do Rio.
O filme serve também como documento histórico da nossa política (corrupção) e da violência do tráfico de drogas do Rio de Janeiro, ao traçar a resistência dos bicheiros em investir no negócio das drogas, mesmo com o incentivo da polícia e do deputado, "pois a droga faz a pessoa perder as esperanças, enquanto o jogo é a esperança", nas palavras do diretor. A trilha sonora, de Sérgio Sarraceni pontua a película do inicio ao fim, se tivesse tido mais recursos de orquestração estaria no rol das melhores trilhas de cinema. O filme tá disponível nas locadoras, mas se quiser comprar, vale a pena, faça-o clicando aqui.
“Tucão? Tô telefonando para participar da inauguração da minha fortaleza...E gostaria de dizer que, em homenagem à senhora sua mãe, ela vai se chamar buraco da Marcelina”.
Candomblé, jogo do bicho, carnaval, amizade, traição, Shakespeare, tudo se mistura nesse clássico da nossa cultura. O Yin e Yang da cena da praia onde Tucão todo de branco se encontra ao todo de preto Nico, que bebe um copo de leite é fotografada magistralmente. A grandiosidade da cena no barracão da escola de samba, homenageada recentemente na telessérie Filhos do Carnaval (2006), é das mais perfeitas, com a câmera se estendendo e vindo em slow motion para as personagens. Uma homenagem ao Rio, uma cidade de beleza ímpar, que chegou num ponto de crise social insustentável. Antigamente, quando nossos bandidos eram os “Castores de Andrade” do jogo do bicho, éramos felizes e não sabíamos.
Comentários
Não assisti "Rei do Rio", mas o que acho engraçado é que, apesar do filme ser de 1985, a história continua atual. O RJ continua lindo e o mesmo de sempre.
O filme é um aviso do que vemos hoje no Rio.
Quero ver O CHEIRO DO RALO, mas o filme teve um lançamento ridículo aqui em SP. Pouquíssimas salas e bem longe do meu trabalho (ou de casa).
E o Rio é lindo lá de cima... como na abertura da novela das oito (Não! Não vejo novela. Mas lá em casa, ligam na Globo!). Sempre foi um caos essa violência. Não é de agora...
Abs! E parabéns pelo post!
Como disse no post são poucos os filmes que se salvam, tem alguns outros mais antigos como O Pagador de Promessas e Deus e o Diabo da terra do Sol (que é um capitulo a parte devido ao periodo que foi feito).
Tb quero muito ver o Cheiro do Ralo, a maneira toda como o filme foi feito me encantou. Mas ele ainda não chegou por aqui.
Shii, será que os moranguinho não vão passar nem da primeira fase? Que peninha, hohoho! Abs!
abs!
Túlio, vou dar uma conferida nesse filme, o título já é interessante!