Sangue Negro
There Will Be Blood – Paul Thomas Anderson – 2007 (Cinemas)
Senhoras e Senhores, eu tenho viajado por metade de nosso Estado para estar aqui essa noite...
Depois de 11 minutos e 33 segundos de cenas sem diálogos mostrando sua difícil vida antes de se tornar um grande prospector de petróleo, eis que surge um Daniel Plainview de terno escuro macio e lanoso na textura, opulento no corte, dois botões, com um enorme colarinho e uma enorme lapela pronunciando a frase que ilustra esse post. Pronto, cinema de puríssima qualidade.
Quando fiz a retrospectiva à obra de Paul Thomas Anderson aqui no blog, nem de longe citei entre suas influências outro gênio, Stanley Kubrick. Entre Jogada de Risco (1996) e magnólia (1999), PTA havia passado por Martin Scorsese e Robert Altman – a quem a película é dedicada –, sempre pontuando com sua rica caligrafia cinematográfica. Sangue Negro ainda é um Paul Thomas Anderson em sua essência, mas possui pinceladas fortes de Kubrick que, se vivo, ficaria chocado com tamanha audácia de tão jovem talento, esquecendo que um dia já fora igualmente petulante.
Segundo a produtora JoAnne Sellar, o cineasta não filmaria sem a participação de Daniel Day-Lewis, o ator que da mesma forma da personagem tem um problema com seu filho, fruto de sua união com a atriz Isabella Adjani, guarda um ódio de toda a humanidade assim que encontra um defeito. É no filho adotivo H. W. (o estreante e ótimo Russel Harvard) que ele encontra um significado na vida. Inteligente, sagaz e fã do pai, H. W. porém vai provar ao pai que é apenas uma criança.
Senhoras e Senhores, eu tenho viajado por metade de nosso Estado para estar aqui essa noite...
Depois de 11 minutos e 33 segundos de cenas sem diálogos mostrando sua difícil vida antes de se tornar um grande prospector de petróleo, eis que surge um Daniel Plainview de terno escuro macio e lanoso na textura, opulento no corte, dois botões, com um enorme colarinho e uma enorme lapela pronunciando a frase que ilustra esse post. Pronto, cinema de puríssima qualidade.
Quando fiz a retrospectiva à obra de Paul Thomas Anderson aqui no blog, nem de longe citei entre suas influências outro gênio, Stanley Kubrick. Entre Jogada de Risco (1996) e magnólia (1999), PTA havia passado por Martin Scorsese e Robert Altman – a quem a película é dedicada –, sempre pontuando com sua rica caligrafia cinematográfica. Sangue Negro ainda é um Paul Thomas Anderson em sua essência, mas possui pinceladas fortes de Kubrick que, se vivo, ficaria chocado com tamanha audácia de tão jovem talento, esquecendo que um dia já fora igualmente petulante.
Segundo a produtora JoAnne Sellar, o cineasta não filmaria sem a participação de Daniel Day-Lewis, o ator que da mesma forma da personagem tem um problema com seu filho, fruto de sua união com a atriz Isabella Adjani, guarda um ódio de toda a humanidade assim que encontra um defeito. É no filho adotivo H. W. (o estreante e ótimo Russel Harvard) que ele encontra um significado na vida. Inteligente, sagaz e fã do pai, H. W. porém vai provar ao pai que é apenas uma criança.
Pontuado por uma trilha sonora criativa, original, provocadora e essencial num filme de 2 horas e meia, composta pelo guitarrista do Radiohead, Jonny Greenwood, as cenas vão ganhando dimensão sob os acordes de Jonny, a ponto de começarmos a esperar pelo pior à medida que os zunidos aumentam, alias uma velha técnica da grife de Anderson.
Enquanto Plainview vai tomando conta do filme e se tornando uma personagem magnífica cena após cena, um antagonista mais do que necessário se torna uma urgência, é quando entra Eli Sunday, um pastor a quem Daniel quer comprar suas terras em busca do ouro negro. Os vários confrontos entre os dois passam por todos os gêneros cinematográficos. Paul Dano, mesmo apagado pelo vulcão Day-Lewis, está seguro e firme, e lembra muitas vezes, não só pelas características da personagem, Frank T.J. Mackey, interpretado por Tom Cruise em magnólia (1999).
Sangue Negro é um espetáculo da arte, um filme tão perfeito que se torna obscuro no inicio, e vai clareando aos poucos para revelar-se uma obra-prima. Um quadro de Caravaggio que de tão precioso perderia significado se fosse agraciado por algum prêmio.
Enquanto Plainview vai tomando conta do filme e se tornando uma personagem magnífica cena após cena, um antagonista mais do que necessário se torna uma urgência, é quando entra Eli Sunday, um pastor a quem Daniel quer comprar suas terras em busca do ouro negro. Os vários confrontos entre os dois passam por todos os gêneros cinematográficos. Paul Dano, mesmo apagado pelo vulcão Day-Lewis, está seguro e firme, e lembra muitas vezes, não só pelas características da personagem, Frank T.J. Mackey, interpretado por Tom Cruise em magnólia (1999).
Sangue Negro é um espetáculo da arte, um filme tão perfeito que se torna obscuro no inicio, e vai clareando aos poucos para revelar-se uma obra-prima. Um quadro de Caravaggio que de tão precioso perderia significado se fosse agraciado por algum prêmio.
Comentários
Sempre digo que o tempo é o maior crítico que existe... Mas desta vez, não consigo achar outro termo. É um filme magnífico, perfeito.
Abs!
Pela sua última frase, posso entender que você prefere que o Oscar vá mesmo para os irmãos Coen e seu "Onde os Fracos Não Têm Vez"?
Kamila, obrigado, acho que assistir Sangue Negro é uma experiência muito além da sinopse, e pela última frase vc pode entender isso, mas quis ir mais longe tb, peguei bem os clássicos do Stanley Kubrick, grande homenageado de Sangue Negro e pensei: Todos consideram os filmes do Kubrick como obra de arte, ai eu pergunto, se eles tivessem ganho o Oscar seriam? Talvez sim, vide O Poderoso Chefão, mas pode ser que não, já que ultimamente a academia premiou cada bomba, tipo Titanic, O Senhor dos Aneis, Crash, que são filmes bons, mas coloca-lo no mesmo patamar do Poderoso Chefão é absurdo! Já Sangue Negro não! Agora se a conversa for Sangue Negro x Onde os Fracos não tem Vez? Sangue Negro!
E eu nunca colocaria "Titanic", "O Senhor dos Anéis" e "Crash" no mesmo patamar de "O Poderoso Chefão". ;-)
Ah, não sabia que o Day-Lewis tinha um problema com o filho dele. Lembro da história que ele terminou o namoro com ela, - na época grávida - através de um fax.
Romeika, obrigado, uma dica, corra para ver esse filme, ele é um oasis na época atual. Lembro dessa história do fax...
Kamila, não sei não, o que sei é que ele terminou com a Adjani e tb com o filho, por mais estranho que possa parecer, e esse assunto é um tabu até hj.
Abraço!!!
parabéns pelo texto, mutio bom essa associaçao com uma obra de arte no final... prabéns..
abraços
Rodrigo, obrigado, veja sim, o mais breve possivel. Abs
"Um quadro de Caravaggio que de tão precioso perderia significado se fosse agraciado por algum prêmio."
Não sei o que dizer sobre isso. Estou na expectativa do filme ganhar o Oscar, apesar de não tê-lo visto, ainda.
Achas que ele não ganha, Cassiano?
Acho que ele ganha, mas tb acho que é uma incognita, já que nenhum jornalista dá como certa a sua vitória, e todos nós sabemos da influência deles no prêmio.
Por enquanto, minhas esperanças eram "Onde os Fracos nao tem vez", mas confesso que me decepcionei um pouco. Assim, acho que Sangue Negro vai atropelar os Coen. Pelo que li, pra vc já atropelou né?
Rogério, Onde os Fracos é muito bom, um filmão que vai rivalizar muito bem com Sangue Negro, mas o filme de PTA é perfeito demais.
Digamos que após sua resenha absurdamnte contemplativa, eu não me decepcionei. Amei a obra.
Agora, não sei se esse será o papa-tudo dos Oscars. Talvez esteja com a mentalidade essencialmente cinéfila quando penso isso.
Não sei ainda. Só sei que é demais!