nouvelle vague
EXT. DIA. RIO SENA. P&B. Enquanto passeiam as margens do Rio Sena, o jovem casal discute sobre o novo corte de cabelo dela. Segurando uma coca-cola na mão e com aquele ar au passant, a mademoiselle parece não se afetar com as provocações do companheiro. Ele, por sua vez, largado num terno cinza, fuma compulsivamente e fala tagarelamente (pequena pausa). Continuando a falar, para ele mulher não deve ter os cabelos mais curtos que o do companheiro. Até pode ter cabelos curtos, mas isso indica que ele deverá deixar crescer suas madeixas.
“Só mesmo os franceses para colocar um cinema dentro de um palácio”, como já disse Bertolucci em seu filme homenagem, Os Sonhadores (2003).
E essa é a essência do cinema francês. Um cinema clássico, feito de cinéfilos para cinéfilos, feito como uma obra de arte (já que é a 7a arte) e feito para ser apreciado como tal. Ir ao cinema é como ir ao museu, ver um obra de Picasso, Rodin ou Caravaggio, só o cinema francês nos entrega isso, ao contrário do norte-americano que inventou a pipoca (nada contra), os multiplexes (também nada contra) e o cinema fast-food (tudo contra). Mas para cada cinema-indústria deveríamos ter um palácio, e isso passa diretamente pela população, pois de nada adianta se ter lugares maravilhosos vazios. Cada povo tem o cinema que merece.
Os grandes nomes do cinema francês se concentram em um período – a década de 60, um movimento – a nouvelle vague, e uma revista – Cahiers du Cinema, que fez dos críticos cineastas respeitados. Da publicação saíram três dos mais importantes nomes do cinema francês, Jean-Luc Godard, um vanguardista, François Truffaut, e o menos celebrado, mas nem por isso menos importante, Claude Chabrol. Se hoje temos Scorceses, Altmans, Coppolas, De Palmas e Bertoluccis é porque esses cinéfilos revolucionários inventaram um modo independente de fazer filmes.
Em 1948, o crítico de cinema e futuro cineasta, Alexandre Astruc criou a teoria da caméra-stylo, que vislumbrava um cinema de autor, onde a câmera fosse uma espécie de pincel. Seis anos depois uma crítica na Cahiers clamava por um cinema livre, de atuações soltas, de locações externas, e mais autoral, onde o diretor colocasse sua visão de mundo na película. O autor desse documento histórico foi François Truffaut.
A nouvelle vague foi o modo contestatório que os críticos e cinéfilos encontraram para expor suas idéias na França de 1960, invadida pela idéia da revolução juvenil, principalmente depois da rebelião de maio de 1968, onde estudantes, indignados com a proibição do reitor da Universidade de Nanterre de deixar os rapazes visitarem as garotas em seus dormitórios, promoveram uma revolta conclamando outras universidades, como Sorbonne. Em meio à revolução da juventude francesa, o diretor do cinema do Palais de Chaillot, o Musée du Cinéma, e a Cinémathèque Française, Henri Langlois, foi destituído do cargo pelo Presidente Francês Charles De Gaulle, então os jovens cinéfilos se juntaram ao clima das ruas para manifestar também seu descontentamento. Nesse ano, 1968, o Festival de Cannes sofreu com o boicote e teve que ser suspenso. Depois de ver os protestos de cineastas do mundo inteiro, entre eles Charles Chaplin, e os conterrâneos Truffaut e Godard, De Gaulle resolveu voltar atrás e readmitir Langlois.
A grande qualidade do movimento nouvelle vague era a crítica. A criatividade era quem exercia a influencia sobre o cineasta. Hoje o cinema francês pode não ser o de maior destaque, mas o que esses revolucionários fizeram nos traz a esse extraordinário e apaixonante mundo, o mundo do cinéma (até o nome ganha uma aura mais imponente em francês). O marco inaugural foi Nas Garras do Vício (1958) e Os Primos (1959) de Claude Chabrol, sendo seguido pelos ícones Acossado (1960) e Alphaville (1965) de Godard e Os Incompreendidos (1959) e Jules Et Jim (1962) de Truffaut.
A grife da nouvelle é marcada pela quebra dos protocolos narrativos estabelecidos pelo cinema hollywoodiano da década de 50, diálogos reais e transgressores, não linearidade da trama, preferência por cenas externas e cenários reais, eram carregados de um erotismo tênue e tinham uma queda pelo film noir. Os cineastas do movimento freqüentemente se reuniam em cineclubes para discutir obras norte-americanas. Eram chamados de os novos turcos, e liam Balzac e Marx.
“Só mesmo os franceses para colocar um cinema dentro de um palácio”, como já disse Bertolucci em seu filme homenagem, Os Sonhadores (2003).
E essa é a essência do cinema francês. Um cinema clássico, feito de cinéfilos para cinéfilos, feito como uma obra de arte (já que é a 7a arte) e feito para ser apreciado como tal. Ir ao cinema é como ir ao museu, ver um obra de Picasso, Rodin ou Caravaggio, só o cinema francês nos entrega isso, ao contrário do norte-americano que inventou a pipoca (nada contra), os multiplexes (também nada contra) e o cinema fast-food (tudo contra). Mas para cada cinema-indústria deveríamos ter um palácio, e isso passa diretamente pela população, pois de nada adianta se ter lugares maravilhosos vazios. Cada povo tem o cinema que merece.
Os grandes nomes do cinema francês se concentram em um período – a década de 60, um movimento – a nouvelle vague, e uma revista – Cahiers du Cinema, que fez dos críticos cineastas respeitados. Da publicação saíram três dos mais importantes nomes do cinema francês, Jean-Luc Godard, um vanguardista, François Truffaut, e o menos celebrado, mas nem por isso menos importante, Claude Chabrol. Se hoje temos Scorceses, Altmans, Coppolas, De Palmas e Bertoluccis é porque esses cinéfilos revolucionários inventaram um modo independente de fazer filmes.
Em 1948, o crítico de cinema e futuro cineasta, Alexandre Astruc criou a teoria da caméra-stylo, que vislumbrava um cinema de autor, onde a câmera fosse uma espécie de pincel. Seis anos depois uma crítica na Cahiers clamava por um cinema livre, de atuações soltas, de locações externas, e mais autoral, onde o diretor colocasse sua visão de mundo na película. O autor desse documento histórico foi François Truffaut.
A nouvelle vague foi o modo contestatório que os críticos e cinéfilos encontraram para expor suas idéias na França de 1960, invadida pela idéia da revolução juvenil, principalmente depois da rebelião de maio de 1968, onde estudantes, indignados com a proibição do reitor da Universidade de Nanterre de deixar os rapazes visitarem as garotas em seus dormitórios, promoveram uma revolta conclamando outras universidades, como Sorbonne. Em meio à revolução da juventude francesa, o diretor do cinema do Palais de Chaillot, o Musée du Cinéma, e a Cinémathèque Française, Henri Langlois, foi destituído do cargo pelo Presidente Francês Charles De Gaulle, então os jovens cinéfilos se juntaram ao clima das ruas para manifestar também seu descontentamento. Nesse ano, 1968, o Festival de Cannes sofreu com o boicote e teve que ser suspenso. Depois de ver os protestos de cineastas do mundo inteiro, entre eles Charles Chaplin, e os conterrâneos Truffaut e Godard, De Gaulle resolveu voltar atrás e readmitir Langlois.
A grande qualidade do movimento nouvelle vague era a crítica. A criatividade era quem exercia a influencia sobre o cineasta. Hoje o cinema francês pode não ser o de maior destaque, mas o que esses revolucionários fizeram nos traz a esse extraordinário e apaixonante mundo, o mundo do cinéma (até o nome ganha uma aura mais imponente em francês). O marco inaugural foi Nas Garras do Vício (1958) e Os Primos (1959) de Claude Chabrol, sendo seguido pelos ícones Acossado (1960) e Alphaville (1965) de Godard e Os Incompreendidos (1959) e Jules Et Jim (1962) de Truffaut.
A grife da nouvelle é marcada pela quebra dos protocolos narrativos estabelecidos pelo cinema hollywoodiano da década de 50, diálogos reais e transgressores, não linearidade da trama, preferência por cenas externas e cenários reais, eram carregados de um erotismo tênue e tinham uma queda pelo film noir. Os cineastas do movimento freqüentemente se reuniam em cineclubes para discutir obras norte-americanas. Eram chamados de os novos turcos, e liam Balzac e Marx.
Nouvelle Vague (Nova Onda) foi um nome dado em 1958, num artigo escrito por Françoise Giroud na revista L'Express, para apresentar os jovens cineastas franceses que começavam a filmar a margem dos dogmas da indústria cinematográfica, sem qualificação técnica, e com intérpretes poucos conhecidos. Os principais nomes desse movimento, além dos já citados são: Alain Resnais, Eric Rohmer, e Jacques Rivette.
Comentários
Professor, quando é a prova?
Preciso me inteirar mais do Nouvelle Vague. De todos filmes citados só assisti Acossado.
Parabéns pela aula!
Abs!
"Ai ai ai ai, tá chegando a hora
O dia já vem raiando meu bem e tenho que ir embora.."
A retomada começou ontem, agora é seguir forte e aguerrido, como sempre.
Forte abraço!
Marcus, o problema é o Roth, se fosse outro já éramos campeões.
Eu gosto bastante de Nouvelle Vague, mas confesso que ainda sou muito leigo sobre o assunto.
Abs.
Apesar de adorar o cinema francês tenho pouco conhecimento no assunto, vou procurar me informar mais.
Inclusive estou com 'Os Incompreendidos' aqui para assistir.
abraço
Denis, obrigado.
melhor que assistir à um filme da nouvelle vague, é assistir à um filme da nouvelle vague na Paris de 1968...