Crimes d’Alma

Cronaca di un Amore – Michelangelo Antonioni – 1950 (DVD)

“O universo não é nada, senão amor”. Foscolo.

Um filme de Michelangelo Antonioni é sinônimo de obra-prima. Não estou falando que todas as suas películas sejam perfeitas, mas é notável que a grande maioria de suas produções estão no topo dos maiores do cinema mundial, desconfie de qualquer lista que fuja a esta regra.

Crônica de um Amor (não vão pelo título nacional) é mais um do mestre classificado como obra-prima. Sua temática que mistura neo-realismo italiano, film noir, e Antonionismo é uma clássica história de amor mesclada nesses temas.Paola (a lindíssima miss Lucía Bosé) é uma jovem casada com um industrial que contrata um detetive para investigar o seu passado. O investigador acaba atraindo a atenção de Guido (Massimo Girotti), um ex-namorado de Paola. A exceção de Massimo, todo o elenco era desconhecido.

Sempre que penso nisso, aquela comédia me vem a mente...como se chama?... Bom, dizia que o amor de uma mulher pelo marido se mede pelas enxaquecas.Apesar de não incluir cenas de assassinato, não se alongar nas cenas de detetive, e não obter fotografia escura e predominantemente noturnas, o filme flerta a todo o momento com o noir, ao mesmo tempo em que coloca a realidade italiana do pós-guerra (o neo-realismo), principalmente na disputa entre o industrial e o ex-namorado pobre, passando pelo Plano Marshall que ajudou a Itália e a setores da indústria automobilística a se recuperarem da guerra. Reparem também como a bela trilha sonora de Giovanni Fusco sugere o clima noir.A atriz Lucía Bosé, que foi miss Itália e aqui faz seu début no cinema, é considerada musa do neo-realismo italiano, trabalhou com os grandes nomes do cinema mundial, Dino Risi, Luis Buñuel e Federico Fellini, e claro Michelangelo Antonioni. Casou-se com o toureiro espanhol Luis Miguel Dominguín com quem teve dois filhos, Paola e Miguel Bosé, famoso cantor espanhol. Há época do filme Lucía tinha apenas 19 anos.

Michelangelo Antonioni afirmou que a trama girava em torno da questão financeira numa entrevista em 1980: “O filme trata de dinheiro, e o que me recordo de mim mesmo àquela época era que não o tinha. E isto é muito importante, no que acredito que o enfoque da história tivera esse ponto de vista”.
Crônica de um Amor é o primeiro longa-metragem de Antonioni, e é uma grande mostra do que viria a ser sua filmografia como cineasta. Optando por usar tomadas únicas, movimentos coreografados e câmeras imóveis e voyeurísticas, o diretor italiano chama a atenção da bíblia cinematográfica Cahiers du Cinéma que discorre um artigo sobre uma tomada longa e sem cortes, mas altamente necessária, em uma ponte onde os protagonistas ficam em conflito quando enfrentam a realidade do plano que elaboraram. A cena é espetacular e genial. Ela traça uma tomada que começa de um ponto e num movimento de 360º termina do ponto que se originou. Vejam (ou babem) com os seus próprios olhos.

Comentários

Kamila disse…
Não assisti a este filme, mas acho que uma coisa que vai ser redundante nesta retrospectiva é a opinião de que os longas de Antonioni são uma obra prima! :)
A imagem à serviço de uma bela história. A Kamila tá certa mesmo, a coisa é bem por aí, quando falamos do mago da imagem.

Abs!
pseudo-autor disse…
Falar mal de Antonioni é simplesmente um pecado. Quem já viu Blow Up (Depois daquele beijo) sabe exatamente do que eu estou falando. Crônica de um amor é belíssimo (como poucos!).

Cultura? O lugar é aqui:
http://culturaexmachina.blogspot.com
Ramon disse…
Só vi um filme dele. O Blow-Up. Bem interessante. Mas confesso que ainda não tenho como concordar com tantos elogios. Preciso conferir muitas outras obras antes.

A cena é muito bem planejada. Demais!

Abs!
Muchos somos los que en algún momento de nuestras vidas el dinero o la falta del mismo nos hacen ver la vida de una manera unidireccional... se trata de sobrevivir.
Normalmente en el cine que podríamos denominar "superficial", se banaliza todo lo que rodea al dinero... en cambio Michelangelo Antonioni dibuja con su cine un relato que hace reflexionarnos hasta qué punto nuestras vidas dependen de la necesidad de moverse en la vida con el "poderoso caballero, es Don Dinero".