A Grande Beleza
La Grande Bellezza – Paolo
Sorrentino – 2013 (Nos melhores cinemas do país)
Viajar
é útil, exercita a imaginação.
O
resto é desilusão e fadiga.
A
viagem é inteiramente imaginária.
Eis
a sua força.
Vai
da vida para a morte. Pessoas, animais, cidades, coisas, é tudo inventado.
É
um romance, apenas uma história fictícia.
Disse
Littre, e ele não erra.
Porem,
qualquer um pode fazer o mesmo.
Basta
fechar os olhos.
E
está do outro lado da vida.
Louis Ferdinand Céline
Viagem ao Fim da Noite (1932)
Para Paolo Sorrentino, Roma é
o centro do mundo, exatamente como era na época do Império antes de Cristo. Ela
guarda algumas relíquias da humanidade, e é nela que as mazelas mundanas são
mais evidentes, mas, ao contrário da era de protagonismo, a Roma atual é
governada por um escritor, uma espécie de Nelson Rodrigues italiano. Um
crítico.
Jep é interpretado por Toni
Sevillo, inspirado e arrebatador, amado desde o inicio pelo excelente
cinematógrafo Luca Bigazzi – impressionante como um caso de amor entre ator e
câmera fica tão evidente desde o primeiro frame ao som de Bob Sinclar mixando
uma canção com Raffaella Carra, chamada Far L'Amore. Ele é um escritor de um
único livro que virou uma espécie de cronista e crítico de arte. Inconformado e
boêmio ele procura a grande beleza do título, seja nas mulheres – Isabella
Ferrari, Fanny Ardant e Sabrina Ferilli – ou em sua cidade, uma das mais belas
do mundo, e que lhe reserva uma varanda com vista para a mais famosa
arquitetura do mundo, o Coliseu.
A obra-prima de Sorrentino
revela-se em um emaranhado de simbolismo que remonta à época da renascença.
Seria um toque de positivismo diante da crítica embasada do cineasta?
Permitam-me alongar-me um
pouco mais.
Falando em análise negativa,
voltemos à citação inicial do filme e que ilustra esse post. Um trecho de
Viagem ao Fim da Noite, do romancista francês Louis Ferdinand Céline, um conhecido
crítico da sociedade do século XX. Desesperançoso e niilista ele acha que suas
previsões são verdades absolutas, porém o verso que o diretor napolitano Paolo
Sorrentino escolheu é cheio de esperança, é como se ele quisesse apontar para o
próprio Céline e mostrar-lhe que na sua mais famosa obra se encontra beleza. A
grande beleza.
Luca Bigazzi e sua
extraordinária cinematografia da película conceberam imagens que, pode apostar,
farão parte de qualquer relicário cinematográfico que se preze. Podemos tirar
no mínimo 5 frames que passarão a eternidade, e cenas que ganharão vida própria
como a belíssima com a atriz Fanny Ardant, em que Jep, um andarilho pela noite
romana, se encontra com a deusa do cinema, e ele como um fã a olha como se visse
Deus, e ela o entende na hora trocando sorrisos simpáticos ao som da estupenda
melodia de The Beatitudes do compositor russo, Vladimir Martynov.
Assim como Federico Fellini
fez com seu filme estado da arte, La Doce Vita (1960), Sorrentino nos encanta
com seu tour por Roma, junta-se a Fontana de Trevi, a Scala Santa da cena
final, a Passeggiata Del Gianicolo, Terme di Caracalla, o Parco degli Acquedotti,
San Pietro in Montorio e a Fontana dell’acqua Paola. Locais necessitados de
curadores que, assim como no filme, são entregues as chaves para “homens de
confiança”. Paolo Sorrentino e Federico Fellini são dois desses distinguíssemos
senhores cicerones cujas chaves das obras da cidade estarão salvaguardadas.
(Adicionado em 3/1/2014) Quando você ver o filme ficará registrado permanentemente em algum local de sua mente lugares inesquecíveis, e isso virá relembrando cenas marcantes da película. Mesmo nunca conhecendo Roma, bastará fechar seus olhos e a grande beleza estará lá.
(Adicionado em 3/1/2014) Quando você ver o filme ficará registrado permanentemente em algum local de sua mente lugares inesquecíveis, e isso virá relembrando cenas marcantes da película. Mesmo nunca conhecendo Roma, bastará fechar seus olhos e a grande beleza estará lá.
E o resto é blá, blá, blá e...
blá.
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