Juventude
Eu vi um filme seu. Aquele em
que você é o pai que não conhece o filho, e o conhece numa lanchonete quando
ele já tinha 14 anos. Tem um diálogo que gosto muito, quando seu filho diz:
"Porque você não foi um pai para mim?" E você responde: "Não me
achava capaz". Naquele momento entendi algo muito importante. Ninguém no
mundo se sente capaz. Então não há razão para se preocupar.
Youth - Paolo Sorrentino -
2015 (Nos Melhores Cinemas do País)
Aposentado, o Maestro Fred
Ballinger (Sir Michael Caine, soberbo) passa seus dias num spa na Suíça observando e
conhecendo hóspedes e evitando qualquer tipo de trabalho. Até que um insistente
produtor da Rainha da Inglaterra lhe convida para reger uma orquestra e a
renomada soprano Sumi Jo no aniversário do Príncipe Philip, seu marido, um
apaixonado pela obra do legendário músico, e ocasião também onde lhe dará a
ordem de cavalheiro da coroa britânica.
O produtor do palácio de
Buckingham só não sabe que o Maestro não trabalha mais por uma simples razão!
Uma simples canção! Uma simples composição! Simple Song!
Paolo Sorrentino tem um ídolo.
Quase uma obsessão chamada Federico Fellini, que qualquer bom dicionário
mostrará que trata-se do sobrenome do cinema. Fellini morreu em 1993, mas por
isso muitas pessoas o consideram imortal. O cinema de Fellini continua vivo nas
obras de Sorrentino. Suas imagens, sua forma de conduzir, seus planos
elegantes, suas imagens bizarras, seus "Felliniescos" e seu
desenvolvimento para revelar uma história é toda devotada no surreal e genial
cineasta italiano. Ver as obras de Sorrentino é muito mais que voltar ao
passado, é saber, ter a certeza que os grandes continuam e continuará nos
conduzindo por sonhos maravilhosos capazes de deixar qualquer coração cinéfilo
permanentemente feliz.
Fellini tinha um jeito
peculiar de fazer seus filmes, eles simplesmente brotavam de seus sonhos e eram
desenhados logo ao acordar, num primeiro esboço. Paolo Sorrentino parece sonhar
acordado. A cena em que o maestro Fred Ballinger rege uma orquestras de vacas ao som da trilha mágica, impecável e histórica de David Lang, parece ter saído de
uma reencarnação espírita.
Juventude é uma odisseia, uma
tecelagem de emoções que nos leva ao que parece ser o santo graal da vida, a
busca eterna, como a própria personagem de Harvey Keitel (não menos soberbo), o cineasta Mick
Boyle, em determinado momento profetiza: "Dizem que as emoções são
supervalorizadas, mas isso é besteira. Emoções são tudo o que nós temos".
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