O Jovem Papa
The Young Pope - Paolo
Sorrentino - 2016 (HBO - Estreia domingo dia 15)
Senhoras e senhores, venho aqui
lhes dizer que estamos diante de uma obra-prima.
- Quem é o mais importante dos
escritores dos últimos 20 anos? Cuidado, não é o melhor - virtuosismo é para os
arrogantes - o mais importante? Alguém que despertou tanta curiosidade mórbida
que virou o mais importante.
- Não faço ideia, talvez
Philip Roth?
- Não. Salinger. O diretor de
cinema mais importante?
- Spielberg
- Não. Kubrick.
- Artista Contemporâneo?
- Jeff Koons...Marina
Abramovic.
- Banksy. Banda de música
eletrônica?
- Não sei absolutamente nada
sobre música eletrônica.
- Daft Punk.
- A melhor vocalista italiana?
- Mina?
- Ahh, Brava! Agora, você sabe
dizer qual é a linha invisível que conecta todos eles? As figuras mais
importantes em seus respectivos campos? Nenhum deles se deixam ser vistos!
Nenhum deles se deixam ser fotografados.
The Young Pope, o jovem órfão
norte-americano Lenny Bernardo, ou o Papa Pio XIII, foi eleito depois de um
conclave politizado e tenso. A figura de um jovem renovaria a igreja, assim
eles pensavam.
Porém Jude Law (O Papa) é um
conservador de ideias próprias que pretende revolucionar o sistema e lutar com
as armas podres para manter seu poder. E acredite, no Vaticano não é nada
diferente do que em outros lugares digamos, menos sagrados.
Em O Poderoso Chefão (1972),
Michael Corleone resolve na violência a desconfiança sobre sua ascensão ao
poder da famiglia. Em House of Cards (2013) o desconhecido político Frank
Underwood usa a chantagem para virar presidente.
O Papa Pio XIII tem o hábito
de humilhar seus adversários, mas calma, com esse Papa nada é tão preto no
branco, apesar das roupas - das mesmas alfaiatarias do Papa Francisco (leia
Armani) - serem extraordinariamente de cores vividas, claro que com a ajuda
preciosa do mago das imagens Luca Bigazzi. Com esse Papa tudo é mais denso,
profundo. Ele mesmo ensina humilhação num dos episódios:
- Você não faz ideia de
quantos objetivos podem ser alcançados humilhando terceiros. Mas há um segredo.
O humilhado não pode perceber que foi humilhado.
Rodado em Roma e nos
santuários estúdios de Cinecittà, onde foi construída uma réplica da capela
sistina, a série é dirigida e roteirizada por Paolo Sorrentino que parece
estar, em velocidade de cruzeiro, rumo ao hall dos melhores nomes do cinema. Ou
seria o mais importante? Se cuida Kubrick!
Espere tudo que os já
encaminhados ao cinema Sorrentiano costumam assistir. Imagens arrebatadoras e
surreais, uma seleção musical de elevar a alma, diálogos e frases que fariam
Quentin Tarantino ter inveja, e um elenco selecionado a dedo, e quanto a isso
gostaria de fazer dois adendos: O primeiro chama-se Javier Cámara, um
carismático e bom ator espanhol que está sempre nos filmes de Pedro Almodóvar,
e que tem uma adoração por Paolo Sorrentino. Quando soube que ele estava
fazendo a série, se ofereceu para um papel. O italiano lhe deu então o de
Monsenhor Gutierrez que acredito ficará marcado para sempre em sua carreira. O
segundo é David Jude Law, esse importante ator do primeiro escalão de hollywood
é pura emoção, seus nuances e suas manias nos tomam de surpresas, suas pausas
são perfeitas. É impossível ficar impassível diante de suas interpretações para
rirmos ou chorarmos juntos, preparem-se.
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