Advogado do Diabo
The Devil's Advocate - Taylor
Hackford - 1997
Advogado, que nunca perdeu um
caso, se encontra num dilema: defender um cliente de abuso sexual de menor, mesmo
sabendo que ele é culpado do crime.
Vaidade é, definitivamente,
meu pecado favorito.
Advogado do Diabo é um dos
melhores e mais bem estruturados roteiros da história de Hollywood. Baseado no
livro homônimo de Andrew Neiderman, o filme ganha novos traços e um final
diferente, porém mantendo a essência da luta do bem contra o mal.
A certa altura do filme, John
Milton (Al Pacino, o diabo em pessoa, ou como ele mesmo se define, tenho tantos
nomes), fala: quem poderia negar a evidência de que o século XX foi todo meu? E
isso se explica justamente quando o homem atingiu sua glória, o período fértil artístico
do renascimento (séc. XIV e XVI), quando o Teocentrismo, que colocava Deus
acima de todos, aos poucos foi sendo substituído pelo humanismo, o homem no
centro da criação. O próprio Milton diz: eu sou um humanista, talvez, o último
humanista. E é essa vaidade que hoje controla o mundo, seja ela envolvida no
marxismo político e cultural, seja ela nas artes. A vontade de uma minoria
iluminada em mudar a sociedade, a seu modo, acaba desaguando no iluminismo,
movimento da burguesia intelectual europeia, e que norteia a cabeça de muitos egocêntricos
atualmente.
Estreita é a porta da salvação
e larga a da tentação.
Al Pacino e suas minúcias
nuances de interpretação, como uma língua passando entres os dentes, ou um
risinho sarcástico é a personificação da personagem do Diabo. Sedutor,
conquistador, de lábia aguçada e palavras insinuantes, ele consegue o que quer,
inclusive mudar a cor e o corte de cabelo de uma mulher, ou fazer uma religiosa
fervorosa ceder aos seus demoníacos encantos, explicitando a falta que a alta
cultura faz a religiosidade pura. Uma interpretação maravilhosa que culmina com
um discurso onde o ator parece brincar, ressaltando a palavra inglesa para
interpretar, to play, brincar em bom português.
John Milton, seu nome, é uma menção ao escritor
de Paraíso Perdido, poema do século XVII que narra a revolução de anjos caídos
liderados por Lúcifer, que acabam perdendo o paraíso e, no inferno, descobrem
que Deus planeja criar um novo mundo e uma nova criatura a sua imagem e
semelhança. Os demônios, sob orientação de Lúcifer, agora chamado Satanás, decidem
corromper esse novo ser. Melhor reinar no inferno do que servir no paraíso. É
quando, o filho de Deus, se oferece em sacrifício pela redenção da humanidade.
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